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Clareira

Seria tão bom, como já foi,
As comadres se visitarem nos domingos.
Os compadres fiquem na sala, cordiosos,
Pitando e rapando a goela. Os meninos
Farejando e mijando com os cachorros.
Houve esta vida, ou inventei?
Eu gosto de metafísica, só pra depois
Pegar meu bastidor e bordar ponto de cruz,
Falar as falas certas: a de Lurdes casou,
A das Dores se forma, a vaca fez, aconteceu,
As santas missões vêm aí, vigiai e orai
Que a vida é breve.
Agora que o destino do mundo pende do meu palpite,
Quero um casal de compadres, molécula de sanidade,
Pra eu sobreviver.

Adélia Prado
foto:http://senhoraaosul.blogspot.com/2010/09/estiagem.html

Comentários

  1. Na verdade seria tão bom...mas também é bom ter o que recordar.
    Beijinhos

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  2. Vero Lilá(s)... e nesta poesia De Adélia, voltei a minha infância , quando minha avó me ensinava os primeiros pontos.
    Bjs.

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