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Mostrando postagens de junho, 2010

Sorriso

Achei muito boa esta definição de sorriso de Saramago... ” Sorriso, diz-me aqui o dicionário, é o acto de sorrir. E sorrir é rir sem fazer ruído e executando contracção muscular da boca e dos olhos. O sorriso, meus amigos, é muito mais do que estas pobres definições, e eu pasmo ao imaginar o autor do dicionário no acto de escrever o seu verbete, assim a frio, como se nunca tivesse sorrido na vida. Por aqui se vê até que ponto o que as pessoas fazem pode diferir do que dizem. Caio em completo devaneio e ponho-me a sonhar um dicionário que desse precisamente, exactamente, o sentido das palavras e transformasse em fio-de-prumo a rede em que, na prática de todos os dias, elas nos envolvem. Não há dois sorrisos iguais. Temos o sorriso de troça, o sorriso superior e o seu contrário humilde, o de ternura, o de cepticismo, o amargo e o irónico, o sorriso de esperança, o de condescendência, o deslumbrado, o de embaraço, e (por que não?) o de quem morre. E há muitos mais. Mas nenhum deles é o So

POESIA

Eu queria trazer-te uns versos muito lindos colhidos no mais íntimo de mim... Suas palavras seriam as mais simples do mundo, porém não sei que luz as iluminaria que terias de fechar teus olhos para as ouvir... Sim! Uma luz que viria de dentro delas, como essa que acende inesperadas cores nas lanternas chinesas de papel! Trago-te palavras, apenas... e que estão escritas do lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-te e este poema vai morrendo, ardente e puro, ao vento da Poesia... como uma pobre lanterna que incendiou! Mario Quintana

AS MENINAS

As Meninas Arabela abria a janela. Carolina erguia a cortina. E Maria olhava e sorria: "Bom dia!" Arabela foi sempre a mais bela. Carolina, a mais sábia menina. E Maria apenas sorria: "Bom dia!" Pensaremos em cada menina que vivia naquela janela; uma que se chamava Arabela, uma que se chamou Carolina. Mas a profunda saudade é Maria, Maria, Maria, que dizia com voz de amizade: "Bom dia" Cecília Meireles

COTIDIANO - Chico Buarque

Todo dia ela faz Tudo sempre igual Me sacode Às seis horas da manhã Me sorri um sorriso pontual E me beija com a boca De hortelã... http://www.youtube.com/watch?v=3ZW_keqnzD8 Homenagem ao mestre Chico Buarque em seu aniversário, o vídeo original da música Cotidiano. SALVE CHICO!!!!

Passado, Presente, Futuro - José Saramago

Passado, Presente, Futuro Eu fui. Mas o que fui já me não lembra: Mil camadas de pó disfarçam, véus, Estes quarenta rostos desiguais. Tão marcados de tempo e macaréus. Eu sou. Mas o que sou tão pouco é: Rã fugida do charco, que saltou, E no salto que deu, quanto podia, O ar dum outro mundo a rebentou. Falta ver, se é que falta, o que serei: Um rosto recomposto antes do fim, Um canto de batráquio, mesmo rouco, Uma vida que corra assim-assim. in "Os Poemas Possíveis"

Cotidiano

Foi a partir desta frase de Leonardo Boff: " A experiência do mistério não se dá apenas no êxtase, mas também, cotidianamente, na experiência de respeito diante da realidade da vida." que resolvi fazer aqui uma coletânea de textos inspirados no cotidiano. Na vida corrida que levamos muitas vezes não paramos para sentir estes momentos que Boff muito genialmente resgata sua importância, pois muitas vezes buscamos o essência da vida em grandes fatos, grandes experiências. A mim também parece... Voltei ao passado , quando menina, ainda vivia intensamente todos estes momentos. E me veio a mente minha querida avó Fana, como meu avô Zé a chamava. Senti o cheiro do seu café e do seu bolo de fubá. Senti a alegria de ter compartilhado com aquela sábia senhorinha momentos tão doces e tão felizes.

Na Casa Defronte

Na casa defronte de mim e dos meus sonhos, Que felicidade há sempre! Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi. São felizes, porque não sou eu. As crianças, que brincam às sacadas altas, Vivem entre vasos de flores, Sem dúvida, eternamente. As vozes, que sobem do interior do doméstico, Cantam sempre, sem dúvida. Sim, devem cantar. Quando há festa cá fora, há festa lá dentro. Assim tem que ser onde tudo se ajusta — O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza. Que grande felicidade não ser eu! Mas os outros não sentirão assim também? Quais outros? Não há outros. O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada, Ou, quando se abre, É para as crianças brincarem na varanda de grades, Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram. Os outros nunca sentem. Quem sente somos nós, Sim, todos nós, Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada. Na

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia... A vida assim, jamais cansa... Viver tão só de momentos Como estas nuvens no céu... E só ganhar, toda a vida, Inexperiência... esperança... E a rosa louca dos ventos Presa à copa do chapéu. Nunca dês um nome a um rio: Sempre é outro rio a passar. Nada jamais continua, Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrança Das outras vezes perdidas, Atiro a rosa do sonho Nas tuas mãos distraídas... Mário Quintana