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Mostrando postagens de 2010
"Viver é ir tecendo naturalmente a trama da vida."  Lya Luft

Vigília das Mães

Nossos filhos viajam pelos caminhos da vida, pelas águas salgadas de muito longe, pelas florestas que escondem os dias, pelo céu, pelas cidades, por dentro do mundo escuro de seus próprios silêncios. Nossos filhos não mandam mensagens de onde se encontram. Este vento que passa pode dar-lhes a morte. A vaga pode levá-los para o reino do oceano. Podem estar caindo em pedaços, como estrelas. Podem estar sendo despedaçados em amor e lágrima. Nossos filhos têm outro idioma, outros olhos, outra alma. Não sabem ainda os caminhos de voltar, somente os de ir. Eles vão para seus horizontes, sem memória ou saudade, não querem prisão, atraso, adeuses: deixam-se apenas gostar, apressados e inquietos. Nossos filhos passaram por nós, mas não são nossos, querem ir sozinhos, e não sabemos por onde andam. Não sabemos quando morrem, quando riem, são pássaros sem residência nem família à superfície da vida. Nós estamos aqui, nesta vigília inexplicável, esperando o que não vem, o r

Enfeite a árvore da sua vida

Enfeite a árvore da sua vida com grinaldas de gratidão! Coloque no coração laços de cetim rosa,amarelo, azul, carmi, Decore o seu olhar com luzes brilhantes estendendo as cores em seu semblante Essa é a sua roupa para o Natal! Na sua lista de presentes em cada caixinha embrulhe um pedacinho de amor, carinho, ternura, reconciliação, perdão! Tem presente de montão                                                                      no estoque do nosso coração                                                                    e não custa um tostão!                                                                  A hora é agora!                                                                   Enfeite o seu interior! ´                                                              Seja diferente!                                                              Seja reluzente!                                                           

AMANHECER

Floresce, na orilha da campina, esguio ipê de copa metálica e esterlina. Das mil corolas, saem vespas,abelhas e besouros, polvilhados de ouro, a enxamear no leste,onde vão pousando nas piritas que piscam nas ladeiras, e no riso das acácias amarelas. Dos charcos frios sobem a caçá-los redes longas, lentas e rasgadas de neblina. Nuvens deslizam,despetaladas, e altas, altas, garças brancas planam. Dançam fadas alvas, cantam almas aladas, na taça ampla, na prata lavada, na jarra clara da manhã.. . Guimarães Rosa

CASAMENTO

Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como 'este foi difícil' 'prateou no ar dando rabanadas' e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva. Adélia Prado O tempo voa , quando nos damos contas já foram 18 anos de nossas cumplicidades,  de uma vida  em comum, de lutas e alegrias.

Passeio pelo bosque

Ontem foi dia de passear pelo bosque Alemão... O que Curitiba tem de melhor são os parques, os jardins bem cuidados, a natureza , as flores. Junto à natureza nos refazemos, nos renovamos para voltar ao cotidiano. Ainda com direito a alimentar nossa criança interior, percorrendo o caminho da estória de João e Maria, chegando a casa da Bruxa, onde se pode ouvir estorinhas contadas pelas próprias. Aqui as bruxinhas são todas do bem. Cercadas por livros e borboletas. O bosque faz parte do projeto Faról do Saber : O  Farol do Saber  é uma rede de pequenas  bibliotecas  espalhadas por diversos bairros de  Curitiba http://pt.wikipedia.org/wiki/Farol_do_Saber “[...] Quando criança, e depois adolescente, fui precoce em muitas coisas. Em sentir um ambiente, por exemplo, em apreender a atmosfera íntima de uma pessoa. Por outro lado, longe de precoce, estava em incrível atraso em relação a outras coisas importantes. Continuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. Nada posso fazer: parece

ENSINAMENTO

Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento. Aquele dia de noite, o pai fazendo serão, ela falou comigo: "Coitado, até essa hora no serviço pesado". Arrumou pão e café , deixou tacho no fogo com água quente. Não me falou em amor. Essa palavra de luxo. Adélia Prado Ler mais:  http://www.luso-poemas.net/modules/news03/index.php?storytopic=47&storynum=60&order=published&mode=1&uid=0&start=0#ixzz160dxbeNC Under Creative Commons License:  Attribution Non-Commercial No Derivatives

TELHA DE VIDRO

Quando a moça da cidade chegou veio morar na fazenda, na casa velha... Tão velha! Quem fez aquela casa foi o bisavô... Deram-lhe para dormir a camarinha, uma alcova sem luzes, tão escura! mergulhada na tristura de sua treva e de sua única portinha... A moça não disse nada, mas mandou buscar na cidade uma telha de vidro... Queria que ficasse iluminada sua camarinha sem claridade... Agora, o quarto onde ela mora é o quarto mais alegre da fazenda, tão claro que, ao meio dia, aparece uma renda de arabesco de sol nos ladrilhos vermelhos, que — coitados — tão velhos só hoje é que conhecem a luz do dia... A luz branca e fria também se mete às vezes pelo clarão da telha milagrosa... Ou alguma estrela audaciosa careteia no espelho onde a moça se penteia. Que linda camarinha! Era tão feia! — Você me disse um dia que sua vida era toda escuridão cinzenta, fria, sem um luar, sem um clarão... Por que você não experimenta? A moça foi tão bem sucedida... Ponha uma telha de vidro em sua vida! Rachel

A Arte de Ser Feliz

Houve um tempo em que minha janela se abria sobre uma cidade que parecia ser feita de giz. Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.  Era uma época de estiagem, de terra esfarelada, e o jardim parecia morto. Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.  Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor. Outras vezes encontro nuvens espessas. Avisto crianças que vão para a escola. Pardais que pulam pelo muro. Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais. Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar. Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega. Às vezes, um galo canta. Às vezes, um avião passa. Tud
Eu sou aquela mulher que fez a escalada da montanha da vida, removendo pedras e plantando flores. Cora Coralina Uma singela homenagem a minha querida vó Fana pelo seu aniversário. Fique em paz , amada avó.

ANINHA E SUAS PEDRAS

Não te deixes destruir... Ajuntando novas pedras e construindo novos poemas. Recria tua vida, sempre, sempre. Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça. Faz de tua vida mesquinha um poema. E viverás no coração dos jovens e na memória das gerações que hão de vir. Esta fonte é para uso de todos os sedentos. Toma a tua parte. Vem a estas páginas e não entraves seu uso aos que têm sede. Cora Coralina   (Outubro, 1981) Deliro com os poemas de Cora, é como se ouvisse novamente minha vó Fana...

Assim eu vejo a vida...

A vida tem duas faces: Positiva e negativa O passado foi duro mas deixou o seu legado Saber viver é a grande sabedoria Que eu possa dignificar Minha condição de mulher, Aceitar suas limitações E me fazer pedra de segurança dos valores que vão desmoronando. Nasci em tempos rudes Aceitei contradições lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo Aprendi a viver.  (Cora Coralina)

Vai menina...

Vai menina, fecha os olhos. Solta os cabelos. Joga a vida. Como quem não tem o que perder. Como quem não aposta. Como quem brinca somente. Vai, esquece do mundo. Molha os pés na poça. Mergulha no que te dá vontade. Que a vida não espera por ti. Abraça o que te faz sorrir. Sonha que é de graça.Não esperes. Promessas, vão e vem. Planos, desfazem-se. Regras, tu as ditas. Palavras, o vento leva. Distância, só existe para quem quer. Sonhos, realizam-se, ou não. Os olhos fecham-se um dia, para sempre. Mas o amor...ah o amor é eterno. E o que importa tu sabes, menina. E o quão isso te faz sorrir. E só. Rita Ramalho
SER MESTRE Tarefa difícil, mas não impossível, tarefa que pede sacrifício incrível! Tarefa que exige abnegação, tarefa que é feita com o coração! Nos dias cansados, nas noites de angústia, nas horas de fardo, de tamanha luta, chegamos até a questionar: Será, Deus, que vale a pena ensinar? Mas bem lá dentro responde uma voz, a que nos entende e fala por nós, a voz da nossa alma, a voz do nosso eu: - Vale sim, coragem! Você ensinando, aprende também. Você ensinando, faz bem a alguém, e vai semeando nos alunos seus, um pouco de PAZ e um tanto de Deus! Aos amados mestre , com carinho
Gosto de imaginar na minha ludicidade poética que somos girassóis humanos, lindas, fartas, ensolaradas, pétalas sutis. É da nossa natureza buscar a luz, e o chamado, intransferível, é tão vital que às vezes até nos tornamos contorcionistas diante das circunstâncias da vida só para nos voltarmos para ela. E o miolo, bordado cheinho de sementes de amor e de lume, é o nosso coração. Ana Jácomo fonte:  http://anajacomo.blogspot.com/

Clareira

Seria tão bom, como já foi, As comadres se visitarem nos domingos. Os compadres fiquem na sala, cordiosos, Pitando e rapando a goela. Os meninos Farejando e mijando com os cachorros. Houve esta vida, ou inventei? Eu gosto de metafísica, só pra depois Pegar meu bastidor e bordar ponto de cruz, Falar as falas certas: a de Lurdes casou, A das Dores se forma, a vaca fez, aconteceu, As santas missões vêm aí, vigiai e orai Que a vida é breve. Agora que o destino do mundo pende do meu palpite, Quero um casal de compadres, molécula de sanidade, Pra eu sobreviver. Adélia Prado foto: http://senhoraaosul.blogspot.com/2010/09/estiagem.html

Ando tão à flor da pele

Ando tão à flor da pele Que qualquer beijo de novela me faz chorar Ando tão à flor da pele Que teu olhar flor na janela me faz morrer Ando tão à flor da pele Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser   Ando tão à flor da pele Que a minha pele tem o fogo do juízo final Um barco sem porto sem rumo sem vela cavalo sem sela Um bicho solto um cão sem dono um menino um bandido Às vezes me preservo noutras suicido Oh, sim, eu estou tão cansado Mas não pra dizer Que eu não acredito mais em você Com minhas calças vermelhas Meu casaco de general Cheio de anéis Vou descendo por todas as ruas E vou tomar aquele velho navio Eu não preciso de muito dinheiro Graças a deus E não me importa, honey                                 Zeca baleiro porque assim o é , hoje...

Ando tão à flor da pele

Ando tão à flor da pele Que qualquer beijo de novela me faz chorar Ando tão à flor da pele Que teu olhar flor na janela me faz morrer Ando tão à flor da pele Que meu desejo se confunde com a vontade de não ser   Ando tão à flor da pele Que a minha pele tem o fogo do juízo final Um barco sem porto sem rumo sem vela cavalo sem sela Um bicho solto um cão sem dono um menino um bandido Às vezes me preservo noutras suicido Oh, sim, eu estou tão cansado Mas não pra dizer Que eu não acredito mais em você Com minhas calças vermelhas Meu casaco de general Cheio de anéis Vou descendo por todas as ruas E vou tomar aquele velho navio Eu não preciso de muito dinheiro Graças a deus E não me importa, honey porque assim o é , hoje...

Obrigado Senhor

Obrigado, Senhor, porque és meu amigo. Porque sempre comigo Tu estás a falar. No perfume das flores, na harmonia das cores e no mar que murmura o Teu nome a rezar. Escondido tu estás no verde das florestas, Nas aves em festa, no sol a brilhar. Na sombra que abriga, na brisa amiga. Na fonte que corre ligeiro a cantar. Te agradeço ainda porque na alegria, Ou na dor de cada dia posso Te encontrar. Quando a dor me consome, murmuro o Teu nome e mesmo sofrendo, eu posso cantar. Escondido tu estás... Vera Lúcia http://www.vagalume.com.br/vera-lucia/obrigado-senhor.html#ixzz10Lhh2NCw Minha querida vó Fana era de uma fé inabalável! Muito me ensinou sobre a vida em sua simples rotina de vida, que  incluia ir à missa todos os dias. Forte e guerreira , a todos tinha uma palavra , um conselho. Sua vida era embasada pela palavra de Deus. Hoje começa a primavera, ver as flores, o verde , sempre me remete a Deus. A mim parece impossível olhar a natureza e não pensar no Criador dela! Obrigado Senh

Quando vier a Primavera

Quando vier a Primavera, Se eu já estiver morto, As flores florirão da mesma maneira E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada. A realidade não precisa de mim. Sinto uma alegria enorme Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma. Se soubesse que amanhã morria E a Primavera era depois de amanhã, Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. Por isso, se morrer agora, morro contente, Porque tudo é real e tudo está certo. Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. O que for, quando for, é que será o que é. Alberto Caeiro